Não vou falar muito sobre o desencanto (ou desencantamento) porque é um tema que me é muito doloroso.
Desencantei-me da vida muito cedo, pelos 14 anos, embora isso já se tivesse iniciado muito antes, na infância. Quando percebi certas realidades, por exemplo por que não vivia com a minha família, a vida tornou-se um desencanto total em relação ao futuro.
Aos 14 anos percebi que estava só na vida, sem ninguém que gostasse de mim, e que teria de lutar para conseguir simplesmente existir.
Acho que tive sucesso nesse plano, mas as mágoas ainda doem de vez em quando. As dores foram abafadas por acontecimentos felizes que fui vivendo ao longo da vida mas alguns complexos ainda permanecem.
Sou uma sobrevivente. Considero-me uma pessoa feliz, muito feliz, porque aprendi a viver com o que Deus me dá e n’Ele confio.
Antigamente houve uma menina
há muito tempo
e essa menina agora é uma lembrança
plangente de lamento.
Nasci a cantar
nasci a cantar
escondei-me a desgraça
não quero chorar.
Antigamente eu era uma menina
há demasiado tempo
e essa lembrança esconde-se entre lírios
de um jardim de tormento.
Nasci para rir
nasci para rir
quem dera a tristeza
não queira cá vir.
Antigamente tudo era sonho e sina
onde se escoava o tempo
e nunca como agora me surgia na lembrança
um só sonho, um só momento.
Nasci tão alegre
nasci tão alegre
deixai-me assim estar
que a vida é tão breve.
Antigamente houve uma menina
nascida de um lamento
lembrança fugidia, casto lírio
plangente e sem alento.
Nasci a sorrir
nasci a sorrir
meu sorriso é fado
que estou a cumprir.
Antigamente eu era uma menina
mas foi há tanto tempo
que perdi toda a lembrança e toda a mágoa
num sonho que hoje invento.
Nasci a cantar
nasci a cantar
as mágoas e penas
que estou a penar.
Felipa Monteverde
Esta é a minha participação na blogagem coletiva AMOR AOS PEDAÇOS.
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