Sentei-me à secretária para responder a uma carta e percebi que há muito tempo não fazia essa tarefa, tão vulgar antigamente.
Actualmente andamos tão ocupados que deixámos de lado as cartas, andamos tão atarefados que tentamos simplificar tudo, para podermos fazer cada vez mais coisas em menos tempo.
Deixámos de escrever cartas, agora enviamos mails ou SMS...
Deixámos de lado a pieguice de escolher o papel, em função da pessoa a quem era dirigida a carta...
Deixámos de lado o tempo passado a responder a cartas, das quais ficávamos à espera de resposta na volta do correio...
Deixámos de lado o romantismo de sofrer pela demora na resposta ansiada...
Deixámos de lado a ansiedade em receber essa mesma resposta, tantas vezes contrária ao que desejáramos...
Deixámos tanta coisa de lado, arrumada no sótão dos tempos passados, dentro da arca das lembranças, que uma simples resposta a uma carta que hoje tive de fazer (mas era uma carta profissional, técnica), despoletou em mim a nostalgia e a vontade de querer receber uma carta de verdade.
Por isso estou a escrever esta missiva e vou enviá-la a um amigo, a ver se recebo resposta.
E se me enganar no endereço?
E se ele demorar a responder?
Que sensação maravilhosa, esta ansiedade em receber uma carta... Será que vou ficar desiludida com a resposta?
Será que vou ter resposta?
(Felipa Monteverde)
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